sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PICADA ESSIG - TRAVESSEIRO


Picada Felipe Essig, Travesseiro
A localidade situa-se há cerca de quatro quilômetros da sede do município, ás margens do Rio Forqueta e tem atualmente sua economia baseada na produção de aves, suínos e numa agroindústria recentemente inaugurada. Com uma população estimada em cerca de duzentos moradores a Picada Felipe Essig ou Picada Vinagre como também é conhecida luta pela pavimentação da estraga geral que passa pela localidade, já que o trajeto é usado também como desvio do pedágio da BR-386. Até bem pouco tempo, antes da construção da ponte que liga à Marques de Souza, uma barca fazia a travessia entre as localidades. Da localidade são naturais diversos empresários e dirigentes de entidades do Vale do Taquari. A história da localidade foi resgatada recentemente pelo administrador de empresas, Rudi Rubens Essig, residente em Porto Alegre, que concluiu um levantamento histórico de sua terra natal. Seu bisavô, Phillipp Essig, foi um dos pioneiros da colonização do município de Travesseiro. A família Essig, segundo o autor, tem sua origem na cidade de Idar- Oberstein na Alemanha onde sua população atualmente e dedica à lapidação de pedras preciosas. Philipp Essig nas céu em 1841 e aos dezoito anos veio para o Brasil. Desembarcou no local conhecido como Passo da Barca, hoje Picada Fhillipp Essig, em 1875. Constituiu família e formou uma propriedade onde cultivava cereais. Entre as curiosidades citadas no livro estão a de que seu vizinho mais próximo residia em Linha Cairú, distante sete quilômetros, para onde se deslocava de canoa pelo Rio Forqueta. O único moinho, existente na época, se localizava na localidade hoje chamada de Arroio Grande no Município de Arroio do Meio, e pertencia a família Horn de Estrela e que fora inaugurado em 1870. A casa comercial mais próxima era em Lajeado, distante cerca de 25 quilômetros. Sua produção agrícola era transportada pelo Rio Forqueta. Philipp também foi o pioneiro no setor industrial. Iniciou a fabricação de tijolos. O barro era amassado com os próprios pés até atingir a liga necessária para formar uma massa compacta. Aos poucos a sua olaria foi recebendo inovações e o barro, já era amassado pelas patas de cavalos sobre um tablado. Cerca de 30 mil tijolos foram destinados para a construção da igreja da Igreja Evangélica de Confissão Luterana – IECLB em Marques de Souza. Em 1893 iniciou a Revolução Federalista, liderada pelo Deputado Federal Gaspar Silveira Martins que com ambições de assumir o governo, fora vencido pelo republicano Júlio de Castilhos. Na região de Arroio do Meio, o chefe maragato foi o famoso “coronel” José Altenhofen que na época possuía a barca de Beija-Flor, sobre o rio Taquari, defronte a cidade de Arroio do Meio. A revolução já acabara, porém ainda existiam alguns grupos remanescentes dos bandos de maragatos, que tinham, tão somente intenções de praticar saques, assaltos, roubos e desordens.Em 28 de janeiro de 1895, que um grupo de aproximadamente 100 homens, chefiados pelo jovem, de 18 anos de idade, Amandio Pereira Gomes, assaltou a pequena localidade de Travesseiro, onde foram mortos oito agricultores, que foram surpreendidos quando estavam jogando cartas. Nesse mesmo dia, Frederico Jacob Essig, filho de Philipp Essig, fora a Travesseiro, a cavalo, dirigindo-se ao moinho, quando foi informado da chacina ocorrida. Frederico tratou imediatamente de retornar à sua casa. Pelo caminho encontrou o vizinho João De Potter, que era republicano e os maragatos sabiam disso. De Potter apavorado com a notícia do assalto de Travesseiro, tratou de reunir o seu cavalo e uma vaca e deslocou-se até a casa de Philipp Essig, este se encontrava em sua canoa para atravessar o rio Forqueta em busca de seus filhos que freqüentavam a escola em Marques de Souza. De Potter exigiu que Philipp lhe cedesse a canoa para atravessar os seus animais para o outro lado do rio. Philipp não cedeu a canoa, mas prontificou-se a levar o seu vizinho e retornar porque poderia necessitar da canoa para salvar a sua própria família da perseguição das tropas de maragatos. Os dois discutiram na beira do rio e esse incidente teve um fim muito trágico, pois, De Potter puxara de sua arma e matou Philipp dentro de sua própria canoa.

Foto Barca que fazia a travessia do Forqueta em 1953

domingo, 13 de dezembro de 2009


Um lugar no Vale


Progresso em 1938


Nesta semana estamos reproduzindo depoimento de leitor sobre o município de Progresso onde ele faz um relato de momento vivenciado há 71 anos. “Creio que era fevereiro de 1937 ou 1938, meu pai e familiares, entre eles eu com 8 a 9 anos, fomos de “auto de praça” de Lajeado até Vila Fão, que naquele tempo se chamava Bela Vista. Dali tomamos uma diligência que fazia a linha até Progresso, que naquele tempo se chamava Gramado. A diligência (igual às do filme do Zorro), era puxada por seis mulas. Seguimos serra acima, tendo que parar várias vezes e ajudar a empurrar a diligência, pois as mulas não conseguiam subir os terríveis aclives existentes. Aquela viagem e a novidade me convenceram que a profissão de boleeiro, seria um bom emprego para mim. Eu adorava livros de aventuras. Guardei na memória até hoje o nome do condutor, Ricardo Tomazzi. Á tarde chegamos à Progresso, hospedamo-nos no hotel do José Pretto, na esquina vis-a-vis à subprefeitura, que recebia hóspedes que iriam veranear naquela vila. As atrações eram a uva, os figos, o clima fresco e as paisagens agrestes, com um conforto mínimo. As casas eram quase todas de madeira vertical e cobertas por telhas de tabuinhas. Foi meu primeiro contato com região de colonizadores italianos. Lá ficamos dez dias. O subprefeito era também o subdelegado, Florisbelo Rodrigues França e tinha um filho da minha idade, chamado Odacy. Ele me introduziu no conhecimento das brincadeiras locais, diferentes para um filho da cidade de Lajeado, como eu era. Numa manhã, assisti a saída dos presos, da cadeia que era no porão da subprefeitura. Os presos iam a pé ao lado de uma pequena carreta chamada de galeota e puxada por um burrico. O capataz ia na carreta junto com as ferramentas de trabalho de estrada. Ele levava na mão uma açoiteira muito comprida, que servia para compelir o muar e os presos recalcitrantes, segundo informou-me o filho do subdelegado. A igreja estava quase pronta. O padre convidou meu pai, Mário Lampert, para tomar um cálice de vinho. O padre, muito gentil, também serviu um para mim. Lembro que o padre gozava de grande consideração. Em frente da igreja e um pouco à esquerda, tinha uma cantina de vinho, uma novidade para mim. O dono também era um Pretto. Guardei para sempre aquele cheiro. Também se fabricavam pipas e barris ali. No hotel, por ocasião do carnaval, houve um baile infantil, de tarde. Quando entrei, tive medo. Todos os meninos estavam com o rosto mascarado com riscos negros. Uma novidade e um susto para mim. Custei para descobrir quem era o meu amigo. Na rua de acesso que desembocava no hotel, num pequeno matadouro, vi de perto, pela primeira vez, abaterem uma cabeça de gado. Fiquei horrorizado. Estranhei muito que o magarefe cortou a jugular do boi com uma faca, tendo na outra mão uma chaira. Devia ser comum no hotel abater animais para consumo da família e hóspedes. Assisti ao sacrifício de um porco no pátio do hotel. Duas pessoas seguravam a vítima de barriga para cima. Um terceiro espetou-lhe uma faca no pescoço. Num arranco, o animal livrou-se dos que o seguravam e disparou rua afora sangrando e aos guinchos, alertando e divertindo toda a vizinhança que acompanhava a cena em gargalhadas. Foi perseguido de perto e finalmente alcançado para cumprir o seu destino. Perguntei pelos veículos a motor e fui informado que um automóvel ja havia chegado a Progresso. Tinha sido o de um médico de Boqueirão do Leão, de nome Dr. Storck. Depois disso nenhum outro. Um fato jocoso: quando as mulas paravam para descansar, “naquela” posição constrangedora, faziam xixi, todas ao mesmo tempo Inesquecível. Alício soube que você está fazendo uma série de reportagens sobre "Um lugar no Vale" e lembrei-me deste relato em que conto o passado de Progresso visto por um menino ha mais de 70 anos.
Leandro Lampert
Historiador e genealogista

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

TAMANDUÁ - MARQUES DE SOUZA




Um lugar no Vale

Tamanduá, distrito de Marques de Souza

A data não existe oficialmente, mas fala-se que foi por volta do mês de julho de 1888, que chegavam os primeiros imigrantes à localidade. Alguns registros no entanto destacam o ano de 1878 como o início da colonização. Enfim são apenas números que compõe a história mais que centenária desta localidade encravada entre vales fertéis, o rio Forqueta e a BR-386. O nome Tamanduá surgiu a partir do aparecimento do animal que vivia por ali no inicio do século passado. Das dificuldades do início, com os colonos chegando transportados pelos Vapores através do Rio Forqueta e daí em diante de carroças puxadas por bois ou no lombo de cavalos subindo os morros, até os dias de hoje, diversas páginas da história da localidade foram escritas. Houve o tempo da fartura com a cooperativa e o intenso comércio, passando pelo declínio econômico a partir da década de 1990 com os descendentes de imigrantes partindo em direção a grandes centros. Hoje, o distrito de Tamanduá conta com cerca de setecentos moradores e vê a economia local tentar novos rumos com investimentos na área de avicultura e fabricação de tijolos. Uma característica da localidade é ser berço natal de empresários que hoje fazem sucesso pela região.

A história religiosa
O distrito de Tamanduá, colonizado por imigrantes alemães e italianos é composto por duas comunidades religiosas.

Comunidade Católica

A história da Comunidade Católica de Tamanduá iniciou-se por volta de 1888 quando chegaram os primeiros imigrantes. As primeiras famílias sócias foram as de João Kerber e seus filhos Leopoldo e João, Jacob Loeblein, Augusto e Adolfo Henicka, Adão Noll, Pedro Apell, Nicola de Souza, Paulo Eckavart, viúva Suzana Blum, Willi Brenner. Em 1912, chegavam os imigrantes italianos onde são lembradas as famílias de José Basso, João Giovanella, Carlos Zagonel, Pedro Beal, José Berté, Guilherme Dadalt, Fernando Giovanella, João Frozza, Isidoro Poletto, Virgílio de Andrade, Segundo Martinelli, Catina Zanatta, Joãozinho Ferreira, Miguel Frozza, Demétrio Barbieri, Dirigi Giongo, Jacob Loeblein Filho, Eugênio Noll, Cereno Poletto, Baptista Sbaraini e Fioravante Giovanella. Hoje mais de cem famílias integram a comunidade religiosa. O prédio da atual igreja foi construído em 1950. É um dos poucos edificados em madeira e que ainda se conservam no interior do Estado.



Comunidade evangélica

Por volta de 1878 chegavam a localidade imigrantes alemães oriundos da região de São Sebastião do Caí e Dois Irmãos. Eram as famílias de Heinrich Noé, Morgenstern, Grebin, Heinrich Keller, Friedrich Lautenschlager, Hermann Spiecker, Adolf Dtasch, Heinrich Arend e Jacob Fuchs, o Jacó das Mulas. Alguns deles integravam o grupo dos Muckers. O pequeno número de membros não impediu que logo se formasse a comunidade religiosa. O pastor vinha de Forquetinha e os cultos aconteciam junto a um prédio que também servia como escola. Em 1887, Hermann Spiecker concluía este prédio em estilo enxaimel edificado onde hoje está situada a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) construída em 1939. Por volta de 1909 também apareciam sobrenomes de pioneiros como Datsch, Eckhardt, Raabe, Keidel, Abegg, Jaeger, Grevenhagen e Stacke.. Em 1939 foi construída a igreja da IECLB que recentemente passou por restauração.


Fotos e texto Alício de Assunção