sexta-feira, 28 de maio de 2010

FAZENDA LOHMANN - ROCA SALES



Fazenda Lohmann, Roca Sales

Situada a nove quilômetros da sede do município de Roca Sales, a localidade de Fazenda Lohmann foi povoada por descendentes de imigrantes alemães. A área de terras que corresponde atualmente à comunidade pertenceu a Cláudio José Monteiro, que, em 1870, venderia as vinte e quatro colônias que a constituíam para George Karl Lohmann, nascido em uma família de comerciantes, em 1821, em Harderode bei Braunschweig, na Alemanha. Um de seus filhos, Theobaldo Henrique Lohmann continua residindo nesta área de terra. De lá para cá muito se alterou na vida dos moradores. Novos hábitos incorporados convivem com saberes e práticas herdados. Da estrada geral que corta Fazenda Lohmann, são vistos grandes aviários industriais, a passagem do carro de boi que leva o pasto para as vacas; ou à mesa do café-da-manhã, a mortadela e a margarina, também o salame e o Käschmier. O sino da igreja, a cada dia, marca a vida do lugar. Com o passar dos anos, enquanto entre os agricultores reduzia-se o tamanho das famílias e crescia a demanda por bens de consumo, as antigas formas de cultivar a terra iam sendo transformadas por maquinários e insumos químicos.
Hoje, marcando o centro da vida comunitária, de um lado da estrada que, seguindo paralelamente ao rio Taquari, atravessa a localidade, encontra-se, ladeada pelo cemitério, a Igreja Evangélica. Do outro lado da estrada, está o Salão Comunitário. Ao longo da mesma estrada, num raio de cerca de cinco quilômetros de distância da Igreja Evangélica, encontra-se a Igreja Católica e seu salão. Ainda, a antiga construção que, agora abandonada, um dia abrigou uma casa comercial, cujo salão, em revezamento com o de outro estabelecimento comercial, sediava os bailes da localidade na época em que não havia ainda sido erguido o Salão Comunitário.
Também à beira da estrada, há uma serraria, uma oficina mecânica, duas casas comerciais e um bar. Em uma das casas comerciais e no bar há canchas de bocha, o que lhes confere característica de ponto de encontro de moradores da localidade, especialmente os jovens, que ali se reúnem nos finais de semana e, durante o verão, nos inícios de noite, depois do futebol. Paralela ao rio e à estrada, ao longe, a ferrovia do trigo. Na geração de empregos o destaque para uma cerâmica que fornece tijolos e um atelier de calçados.
A maior parte das famílias que vivem em Fazenda Lohmann é associada à comunidade da Igreja Evangélica, que conta ainda com a Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE). Há, ainda, o Clube de Mães e de futebol, e a Sociedade de Cantores Alegria que foi fundada em 1914. Uma das tradições herdadas e mantidas pela comunidade são os bailes de Kerb que desempenhavam papel importante na sociabilidade dos camponeses, pois neles não apenas se encontravam para conversar e dançar, mas também, muitas vezes, para arranjar casamentos ou fechar negócios. Os jovens, geralmente se conheciam nos bailes ou nas festas de Kerb. Uma das bebidas de Kerb, relatam moradores de Fazenda Lohmann, era o Spritzbier, uma espécie de cerveja caseira preparada, pelos próprios colonos, à base de gengibre. Cada família produzia entre 40 e 50 garrafas, mas muitas eram perdidas pois, devido à pressão, freqüentemente estouravam. A cerveja era produzida em uma fábrica situada em uma localidade próxima, Costão, no município de Estrela. Uma semana antes do Kerb, passavam de carroça, vendendo engradados de cerveja. Atualmente, vivem em Fazenda Lohmann cerca de 120 famílias, sendo que dessas aproximadamente trinta são católicas e as demais evangélicas. As informações citadas nesta coluna foram coletadas para trabalho acadêmico pelas professoras Renata Menasche, Leila Claudete Schmitz e Karen Lohmann. Quem também reservas boas lembranças de Fazenda Lohmann é o pastor aposentado da IECLB –Igreja Evangélica Luterana no Brasil, Sírio Rickert, residente em Lajeado. O religioso freqüentou o curso primário na escola Duque de Caxias entre 1938 e 1944. “Época muito importante de nossa vida e que nos marcou profundamente. O colégio tinha em torno de 150 alunos”, recorda o pastor que também atuou Palmitos (SC), Arroio do Meio e como professor no Colégio Alberto Torres em Lajeado.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

BARRA DO FÃO - POUSO NOVO E TRAVESSEIRO




Poucas são as localidades da região em que os moradores, ao abrirem as janelas de suas casas, contam com o privilégio de avistarem áreas pertencentes a quatro municípios. Pois os habitantes de Barra do Fão têm como contemplar num rápido girar de cabeça os municípios de Pouso Novo, Travesseiro, Marques de Souza e Coqueiro Baixo. Privilegiada por paisagens de uma natureza exuberante, Barra do Fão como o próprio nome justifica, se localiza ás margens do encontro dos rios Fão e Forqueta, na divisa entre Travesseiro e Pouso Novo. Separados por uma ponte sobre o Rio Forqueta, inaugurada em 1º de dezembro de 1960, os 150 moradores habitam moradias localizadas nos dois municípios. Até as entidades estão situadas em municípios diferentes. O Esporte Clube Guarani, embora dispute o campeonato municipal de Travesseiro, tem sua sede na área de Pouso Novo. Já a igreja da comunidade católica está localizada no território de Travesseiro. Colonizada no início do século passado a localidade lembra entre as famílias pioneiras sobrenomes como Ferronato, Pruvinelli, Demari, Picinini, Venter, Colombo e Zimiani, entre outros. “Sempre fomos uma comunidade próspera, com um agricultura forte e famílias numerosas mas, que com o passar do tempo ficou pequena para todos que aqui viviam. Os filhos cresceram e partiram em busca de novos horizontes”, afirma Elzira Colombo Doertzbacher (74), que ao lado da amiga e vizinha Lurdes Pruvinelli (71) tem a missão de fazer o serviço de limpeza na igreja católica uma vez por mês. As moradoras são testemunhas do êxodo rural que levou dezenas de moradores para lugares distantes. “Hoje eles são empregados ou proprietários de churrascarias em Lajeado, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Belo Horizonte. Todos estão bem, mas vivem longe daqui e só retornam quando acontece uma festa ou no natal e final de ano,” lembra Lurdes. A propósito, eventos levam centenas de visitantes à localidade. No próximo domingo acontece a festa em louvor a Nossa Senhora do Caravággio. Os bailes da terceira idade também movimentam a comunidade. A colonização italiana deixou heranças como a gastronomia que pode ser conferida nas festas em pratos á base de polenta, sopa de capeletti, grostoli, frango caipira e aipim. Além da produção primária a economia atual se destaca pela produção de tijolos da Olaria Gonzatti e pomares de cítricos como bergamotas e laranjas que abastecem indústrias de suco da serra gaúcha. Como em toda a pequena localidade a casa comercial é o ponto de encontro no final de tarde ou em finais de semana onde se disputam jogos de bocha e o carteado. Na área pertencente a Pouso Novo está o Armazém do Juca. Por estar próxima á BR-386, a localidade acabou fazendo parte da estrada do desvio do pedágio de Picada May. Por ali, circulam diariamente centenas de caminhões e automóveis. Nas famílias que residem na localidade aparecem sobrenomes como Venter, Dresch, Andrade, Gonzatti, Brandão, Grebin, Schneider, Zimiani, Locatelli, Ferronato, Bertol, Borghetti, Deloz, Bianchini e outros. Para as amigas Elzira e Lurdes, Barra do Fão é um lugar especial. “Amamos nossa terra, aqui vivemos em harmonia, tranqüilos, curtindo tudo o que Deus nos deu, temos muitas amizades e apreciamos um bom chimarrão, somos felizes por tudo isso”, salienta Elzira que só tem uma lamentação. “Hoje em dia as pessoas se preocupam demais com a limpeza da casa e com roupas bonitas, mas esquecem de dedicar um tempo para conversar com a família e amigos”.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

FORQUETA - ARROIO DO MEIO




Forqueta – Arroio do Meio


Segundo distrito de Arroio do Meio, com cerca de mil habitantes, a localidade está situada á onze quilômetros com acesso por rodovia asfaltada. A colonização iniciou a partir de 1865, quando chegaram os primeiros imigrantes alemães. De acordo com o professor e pesquisador da história da localidade, Paulo Alécio Weizzemann, os pioneiros foram Mathias Weizzemann, seu bisavô, vindo de São José do Hortêncio, juntamente com outras famílias como Kirch, Lochscheneider, Klauch e Hofmeister. “Foi um início muito difícil, pois chegaram aqui á cavalo”, relata. Logo fundaram um pequeno núcleo colonial abrindo picadas e estradas e construindo pontilhões além é claro, da escola e igreja. “É uma das características do imigrante, se alicerçar na religião e escola, não esperando por soluções advindas de governantes”, afirma. Surgiam nesta época as comunidades católica, alguns integrantes vieram de São Vendelino, por isso é o padroeiro da comunidade, sendo lembrado com uma estátua ao lado da igreja. Em 1880 surgia a igreja luterana. A promissora comunidade teve um comércio muito representativo composto por pequenas casas comerciais, ferraria, cervejaria e até um hospital que foi inaugurado em 1927 e pertencia a um médico nascido na Alemanha. Desde o início a agricultura sempre foi o ponto forte da economia local. Das terras cultivadas á arado e juntas de bois, hoje os produtores rurais investem em aviários, suínos e gado leiteiro. Na vida social o destaque para a Sociedade Esportiva Forquetense, onde se realizam grandes eventos direcionados especialmente aos jovens, o Camping do Ereneu ás margens do Rio Forqueta, encontros de grupos da terceira idade e de clubes de mães e a encenação da Via Sacra, que leva milhares de pessoas á localidade na Sexta-Feira Santa. Na educação mais de uma centena de alunos freqüentam a Escola Municipal Arlindo Back. “Formamos uma comunidade bem organizada, temos ainda aqui correios, o centro administrativo, posto telefônico, padaria e ônibus que nos conduzem a Arroio do Meio e Travesseiro”, frisa o professor Paulo Alécio. Entre os fatos marcantes de Forqueta, o educador que também pesquisa a história local e pretende lançar um livro no próximo ano, recorda que relatos de seu bisavô mostram que a maior enchente ocorrida no Rio Forqueta, foi a de 1873. “Como residiam poucas pessoas, havia muita mata, talvez por isso, tenha causado poucos danos”, argumenta. A origem da denominação da localidade tem várias versões, conforme Paulo Alécio. Uma delas é de que Forqueta seria uma variante de Forquilha, em função do encontro dos Rios Fão e Forqueta em Barra do Fão. Outra é de que o nome teria origem já em 1670, pois os Jesuítas das Missões do Rio Grande do Sul, teriam a intenção de construir um forte na região. “São versões que correm por aí, nada oficial”, destaca. Um dos sonhos dos moradores é a emancipação. Movimento neste sentido foi organizado há alguns anos, porém a tentativa de se tornar município acabou esbarrada em mudanças na lei. “Quem sabe isto ainda vai acontecer, mas o certo é que aqui é um ótimo lugar para se viver, contemplado por uma natureza abundante e caracterizado principalmente pela hospitalidade da gente desta terra”, conclui o professor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

LINHA CAIRU - TRAVESSEIRO





Linha Cairu – Travesseiro

Há cerca de dez quilômetros da sede do município, cortado pela estrada geral que faz divisa com Forqueta em Arroio do Meio, está Linha Cairu. O lugarejo chama a atenção pela calmaria, somente quebrada de vez em quando pelo trânsito de caminhões frangueiros, leiteiros e carroças. Com cerca de cinquenta habitantes a comunidade tem na força do trabalho de sua gente uma das características herdadas dos imigrantes alemães que chegaram a localidade por volta de 1890. As famílias pioneiras foram os Fucks, Siqueira e Metin, algumas destas residiam anteriormente em Conventos, Lajeado. Na época eram plantadores de milho. Mais tarde as plantações de soja tomaram conta de grande parte da área do distrito. Porém as dificuldades de produzir em função do relevo do terreno levaram os agricultores a investirem atualmente em gado leiteiro, aviários e chiqueirões. Embora a maioria da população professe as religiões luterana (IELB) e evangélica (IECLB) e frequentem as igrejas de Travesseiro e Picada Felipe Esiig, a única igreja edificada é a católica, construída em madeira no ano de 1946, onde apenas três famílias estão associadas. Chama a atenção também pelo sino instalado em uma torre ao lado do templo. Uma vez por mês ouve-se o badalar chamando os fieis para a missa na igreja que se localiza na estrada que leva até a localidade de São Luiz em Capitão. São José Operário do Patrocínio é o padroeiro. Dona Helga Weimer Bersch (78), nasceu e ainda vive na localidade. “Aqui é muito bom de se viver. É muito calmo, temos tranquilidade e qualquer necessidade estamos perto de Travesseiro e Arroio do Meio”, afirma. A filha Margarete Neitzke (46) diz que embora seja interior, o clima e as pessoas tornam o lugar muito especial. “Temos terra para produzir e também espaço para o lazer como os jogos de futebol no campo do Esporte Clube Cairú, os bailes, encontro de mães e grupo de idosos. Sobre histórias que marcaram a comunidade, Helga recorda das enchentes do Rio Forqueta que passa em toda a extensão da localidade. “A de janeiro deste ano foi violenta, mas as de 1941 e 1956, conforme falavam meus pais e avós foram maiores”, salienta. Sobre o significado do nome da localidade, Margarete diz que “Cairu” seria uma variante de “Kairo”, nome indígena de um cacique que residiu ali perto, pois existem pesquisas que confirmam que os primeiros habitantes do local terem sido índios. Cairu na língua tupi guarani significa “arvores de folhas escuras”. A casa comercial Quinot é o ponto de encontro para o bate-pato do final de tarde e a compra de artigos de primeiras necessidades. Neitzke, Persch, Prediger, Schneider, Collett, Staffen, Quinot, Prass e Kunh são alguns dos sobrenomes de famílias que residem na localidade.

sábado, 1 de maio de 2010

PICADA SERRA -MARQUES DE SOUZA




Picada Serra – Marques de Souza


A pequena localidade não poderia estar num ponto mais privilegiado. Às margens da rodovia asfaltada, RS-423, há pouco menos de seis quilômetros da BR-386 com uma altitude de 470 metros quadrados que proporciona um clima ameno durante boa parte do ano. As paisagens compostas pelas matas, morros e plantações, muitas vezes cobertas por uma densa neblina, faz em alguns momentos a imaginação nos remeter a algun país da Europa. Aliás, a localidade tem ligações com àquele continente. Por volta de 1900, vindos da Serra Gaúcha, especialmente Garibaldi e Bento Gonçalves, chegavam os imigrantes italianos. Eram as famílias Colombo, Merlo, Zachetti, Cavaletti e Broilo que davam início a uma linda história de muita luta e perseverança. Logo sentiram a necessidade de oferecer dentro da própria comunidade a oportunidade para as crianças freqüentarem a escola. Assim, o morador Augusto Colombo ofereceu espaço de sua própria casa, gratuitamente, para que ali funcionasse a escola e a igreja. A escola iniciou seu funcionamento por volta de 1910, tendo como primeiro professor, o próprio Augusto Colombo, o qual passou seus ensinamentos a seu filho, Atílio Policarpo Colombo, que continuou a caminhada, sendo o primeiro professor oficial encontrado nos registros na escola fundada em 1940 e que nesta semana comemorou setenta anos de existência e que leva seu nome. Um dos moradores mais antigos e Leonildo Degasperi (72), vive na localidade desde três meses de idade. “Não nasci, mas comecei a mamar aqui”, relata orgulhoso. Nono Degasperi como é mais conhecido sabe muito da história local. A casa (foto) que reside com a esposa Lourdes Catarina Zagonel Degasperi é herança do avô Abrão Zagonel. “Está muito bem conservada e deve ter em torno de noventa anos. Ele era marceneiro e a construiu com muito capricho e madeira de primeira”, afirma. Nono lembra também que por 30 anos foi presidente e tesoureiro da Comunidade Católica São Paulo, entidade que reúne moradores ligados a igreja católica. Ele recorda que aos treze anos já integrava a sociedade. “Na primeira pedra angular da comunidade eu estava lá ao lado de meu pai José Degasperi. O padrinho da pedra foi Rodolfo Merlo”.
Aliás é na comunidade que acontece uma das maiores festas da região. “A Festa do Colono Italiano é uma das marcas de nossa comunidade e acontece sempre no mês de julho. É um momento para reencontro, competições e muito lazer das famílias que ainda residem aqui, em torno de trinta, e de ex-moradores”, salienta. Estes poucos moradores que residem na Picada Serra vivem de uma economia diversificada. Nos vales e montanhas da região se destacam a produção de frutas cítricas, frangos e leite e parreiras que resultam na produção de vinho caseiro por algumas famílias. Atualmente a comunidade é composta por diversas famílias como Degasperi, Zachetti, Cavaletti, Pedó, Zagonel, Ledur, Zangalli e Grana entre outros. “Enfim Picada Serra é um ótimo lugar para se viver. Clima ameno, pessoas trabalhadoras e muita tranquilidade”, destaca Nono Degasperi.